Quando iniciamos uma atividade física geralmente convidamos amigos, com o objetivo de ter pessoas amigas ou conhecidas, ao nosso redor para nos estimular. Inscrevemo-nos numa academia, começamos a caminhar, nadar, lutar, suar com amigos, parentes, esposa, marido, namorada (o). Esse é sempre um bom início, um “start” para a nossa empreitada. Entendo que não é fácil para um sedentário sair de casa, do seu conforto, para se dedicar a malhação. A própria palavra já indica, na sua etimologia, um sofrimento.
Então porque malhar? Porque insistir no treinamento físico?
Porque é tão necessário quanto outros hábitos. E realmente funciona quando se torna um hábito, não uma obrigação. No decorrer da jornada de treinamento vamos perdendo as companhias por problemas de agenda (ou boa vontade), especialmente porque nossos colegas não conseguem enxergar a atividade física como um elemento importante na rotina.
Então devemos insistir na malhação, sozinhos. E quando olhamos para o lado não há ninguém. Apenas você perseverando com seus pesos, nadando, lutando, socando, chutando, correndo.
Esses dias, num lindo comercial da marca Olympikus, eles mostraram pessoas correndo sozinhas à noite, na chuva, de madrugada através das entranhas da cidade grande. Cada um no seu ritmo e...sozinhos e questionaram: Por quê?
Esses dias, num lindo comercial da marca Olympikus, eles mostraram pessoas correndo sozinhas à noite, na chuva, de madrugada através das entranhas da cidade grande. Cada um no seu ritmo e...sozinhos e questionaram: Por quê?
Sim, é difícil encontrar parceria para tudo que fazemos na vida. É difícil conciliar gostos e sabores, imaginem uma atividade física. Por isso, muitas vezes estamos sozinhos na malhação. E não escrevo isso em tom negativo - e sim - para enaltecer o caráter nobre de se persistir no seu objetivo, ainda que sozinho. Isso constrói, amadurece e traz qualidade para o seu desenvolvimento físico. Tive centenas de horas, dias, meses em que treinei sozinho.
Lembro-me que com 15 anos de idade estava competindo com Mountain Bikes. Então sofri um acidente no colégio e machuquei o Menisco. Fiquei com a perna imobilizada, por um tempo e impossibilitado de treinar.
Quando voltei, lembro-me de não conseguir empurrar e puxar o pedal da forma correta, com força e velocidade. Então ia pedalar na estrada entre cidades próximas, na faixa para evitar novos tombos. Sem força – empurrava a perna com o braço. Sempre sozinho.
Naquele ano, me recuperei e consegui ser Campeão Estadual juvenil de Mountain Bike.
Ainda nessas passagens lembro que, ainda na adolescência, por alguma razão, fui proibido de andar com a bike enquanto minhas notas não melhorassem na escola. Infelizmente havia uma competição marcada, na minha cidade e em pleno domingo de manhã. No dia, saí de manhã cedo para a competição, corri de bike, me sujei todo, venci e voltei voando para casa. Tomei um banho, roupa limpa e machucado, porém fui encontrar meus pais.
Não comentei da competição, pois eu “deveria” estar de castigo de pedalar. Na segunda-feira de manhã, para minha surpresa uma matéria no jornal da cidade com uma bela foto minha pedalando. Não tive punição, pois afinal tinha vencido a prova e era algo saudável. Mesmo assim ficou o mal estar.
A vontade de treinar, competir e envolve-se com uma atividade física é sempre solitária. E mais consistente, quando tomada sozinho.
Muitas vezes, tenho que treinar Karatê sozinho. Procuro me observar e corrigir - brigo comigo mesmo - repito centenas de vezes um movimento até chegar próximo do ideal. E isso requer um tempo - solitário - para surgir às questões que irão qualificar o treino e a forma. Os "insights" da psicanálise ou "satoris" do Zen.
O treinamento físico é um desafio individual. A evolução conquistada será única e exclusivamente sua. Os ganhos e perdas físicos e calóricos serão seus. O músculo tem uma memória e cada dia que você treina envia a mensagem de esforço ao seu sistema físico. Força, agilidade, equilíbrio, coordenação, explosão entre outros crescem com o seu treinamento. Seu temperamento é domado, sua vontade testada e sua convicção de estar no Caminho certo é reafirmada a cada treino e dia vencido.
Sou a favor de se levar a atividade física - por vezes - ao extremo. Impor-se limites maiores e mais desafiadores. Não acredito em atividades físicas onde não existe suor e um pouco de dor. Sei que educadores físicos, médicos e fisioterapeutas (mais carolas) poderão discordar da minha opinião. E entendo o ponto deles. Entretanto sempre tive a atividade física com a intenção de fortalecer meu lado fraco, de cultivar o espírito de lutador que é da minha essência.
E dentro disso o suor, dor e privação encontram-se sempre presentes.
Tenho certeza que o avanço da idade e das minhas demandas pessoais e profissionais vão me limitar, no futuro. Tenho certeza que os avanços físicos serão menores, e as dores maiores, porém também tenho certeza que irei persistir nos treinamentos, dentro da condição que for.
Na vida sempre recebemos pequenas mensagens que o Universo nos oferece. A solidão do treinamento físico tem muito a ver com as solidões que temos que suportar na nossa vida. E partes das mesmas nos oferecem a oportunidade de crescermos, de amadurecermos como seres humanos. A solidão é vista de forma negativa por muitos e até assustadora para alguns - todavia pode ter o caráter de reflexão para a produção de coisas positivas no futuro. Afinal, cada um de nós tem uma vida única, como se fosse um livro original, de única edição.
Quando treinamos em noites escuras, em salas vazias, nas madrugadas onde somente os pássaros são a nossa companhia. Quando corremos na rua e começa a chover, ventar, fazer frio a ponto das mãos congelarem, quando percebemos que talvez a melhor coisa fosse desistir e voltar para casa...então olhamos para o lado e não temos ninguém...finalmente...
Percebemos que não estamos sós.
Percebemos que não existe melhor companhia, para alguns momentos, que nós mesmos.
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