Katas: Dignidade e Coerência
Atualmente estou treinando diariamente os katas heians e os katas Empi e Kanku Dai. Terei que executa-los em janeiro, no módulo VIII do Curso de Instrutores da FSRKT. Estou tendo um enorme prazer em treina-los. Inicio o treino com os Heians e sinto que cada vez entendo mais e executo "um pouco" melhor os primeiros katas do meu estilo. Na faixa preta é que se inicia o treino, dizem. Realmente. Agora tenho chance de usufruir das ferramentas para identificar e melhorar minha forma, e sinto prazer nisso ainda que esteja longe do ideal.
Meses atrás eu sofri um acidente e estava machucado. Sem condições de treinar, dar aulas e muito menos executar um kata com decência. Ainda assim tive que me manter fazendo todas essas coisas, tenho responsabilidade com os meus alunos com o Caminho (Budô) que me escolheu. A dor era muita, nas costas, nas pernas, braços e no espírito. Tive que executar o Jion - um kata que gosto - porém não o fiz com propriedade. Levei mijada do professor no curso que participava, tentei justificar, porém não adiantou. Não existem desculpas para um guerreiro.
Hoje, já em forma e treinando, lembrei do meu professor (Sensei Malheiros) me corrigindo, em outro momento. Era uma correção de professor para aluno, leal, correta e fácil de ouvir e se fazer entender. Falava que o kata deve ser feito com “dignidade”. Sim, e o que significa isso? Pode significar muitas coisas, entre elas que temos que atentar aos detalhes da postura, de lutar. Não é uma simples coreografia e sim um combate real contra muitos adversários. E como lutador temos que estar com o espírito preparado para esse combate, com a forma limpa e coluna reta. Mãos fechadas quando devem estar fechadas e abertas de forma correta quando é necessário. As bases devem estar firmes, equilibradas e o kime deve ser colocado no momento certo. Não podemos executar um kata (pelo menos na frente de outros) com dores musculares, braço quebrado, sem controlar a respiração. Podemos evitar isso, pois se o quadro não é favorável, o kata também não será favorável a quem o executa. A tal “dignidade”.
Isso se aplica diretamente na vida. Quando vamos para uma entrevista de emprego (ou trabalho, um conceito mais moderno) vamos nos apresentar em farrapos? ou vamos procurar mostrar o nosso melhor, com dignidade e vontade? quando queremos vender uma idéia para alguém temos que mostrar o melhor da nossa idéia. Ou ainda em relacionamento, em momento de crise temos que manter a dignidade e respeito - fora disso, não vale a pena continuar uma conversa, mesmo com um ente querido.
E a “coerência”? Lembro que na minha adolescência não era conhecido por ser coerente. Era tudo em excesso ou em falta demais. Graças ao tempo, maturidade e outras ferramentas (terapia, karatê e espiritismo) melhorei. Me tornei um pouco mais coerente. E nos katas isso aparece muito, a tal coerência. Durante a execução os movimentos devem ser naturais. Quase não existem movimentos que possam causar uma confusão estética ou física, a confusão está nos nossos limites mentais e físicos. Na nossa falta de habilidade em executar os movimentos (avançados) por querer fazer já na primeira vez de forma perfeita. “ A perfeição é uma utopia” já diria meu mestre e complementava: “ ainda assim temos que persegui-la”. É o nosso Caminho.
Hoje consigo identificar quando estou fazendo algo errado num kata. Geralmente é um movimento que está fora de contexto ou mal executado. Então procuro na bibliografia ou pergunto a alguém mais experiente. Ou busco em vídeos de mestres que estão executando tal kata, sempre é interessante ver outras execuções. Cada biotipo tem uma forma de executar, todos com os mesmos movimentos, porém com detalhamentos técnicos diferentes.
Dignidade e Coerência são atributos que podemos almejar. Não é fácil para mim e não é fácil para ninguém. Ainda assim podemos almejar e conseguir. No Karatê-dô e na Vida.
Oss.
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