domingo, 24 de junho de 2012

Os 10 "pontos" no treino de Karatê-Dô


Karatê-Dô não é de origem Confucionista ou Budista. As escolas de Shorin e Shorei foram originalmente introduzidas (trazidas) da China (para) em Okinawa. Cada um dos dois estilos tem sua força, assim ambos devem ser preservadas/conservadas.

1- Você não deve praticar Karatê-Dô apenas com o (objetivo) propósito de desenvolver sua força física. O essencial é servir ao seu mestre e aos seus familiares arriscando sua própria vida em casos de emergência. Se você tiver, por algum motivo, que lutar com um ladrão ou com "trombadinha", você deve precaver-se contra um golpe. Você não deve machucá-lo.

2- Praticando Karatê-Dô, pode-se desenvolver um corpo forte, e seus punhos e pés podem ser usados como arma. Assim, se os meninos são treinados (na juventude) desde cedo, eles se tornarão homens de habilidades (aptidões) especiais. Homens com tamanho conhecimento de arte marcial podem contribuir com o país, como soldados, se necessário. Quando derrotou Napoleão em Waterloo, Wellington disse, "A vitória de hoje é o resultado do treinamento duro de jovens em um campo de treinamento na Inglaterra." Um discurso bem feito.

3- Dominar o Karatê-Dô em pouco tempo é extremamente difícil. O provérbio diz que a prática leva à perfeição. Se você praticar por uma ou duas horas todos os dias, você não vai se tornar apenas forte fisicamente, mas dominará a arte do Karatê-Dô ao final de três ou quatro anos de treinamento.

4- Quando você fizer makiwara-tsuki, tenha isto em mente: abaixe os ombros, peito (tórax) para fora, mantenha seus pés firmes e centralize (concentre) seu "ki" no abdômen. Pratique tsuki dessa maneira por umas cem ou duzentas vezes.

5- Quando você assume uma postura (base) de Karatê-Dô, tenha isto em mente: endireite suas costas, abaixe seus ombros, mantenha seus pés firmes, centralize seu "ki" no abdômen e endureça o músculo inteiro (todos os músculos) de seu corpo de tal maneira que a força inteira seja puxada para o abdômen.

6- Aprenda vários movimentos. Mas estude quando e como certos movimentos são aplicados e então pratique os movimentos. Há muitos segredos passados oralmente com relação a movimentos de defesa e contra golpe.

7- Estude os movimentos. Considere qual movimento é bom para conseguir força física e qual é bom para kumite.

8- Você deve praticar Karatê-Dô da seguinte maneira:  olhar fulminante, baixe os ombros, e contraia os músculos como se Você estivesse realmente em uma luta. Praticando deste modo, Você será capaz de se mover naturalmente no caso de uma luta de mãos vazias (sem armas).

9- Não se force muito (se esforce) enquanto pratica, senão Você ter um aumento da pressão e seu rosto ficará vermelho. Estes são sinais de que a prática está passando do limite e que irá denegrir sua saúde com o tempo.

10- Muitos mestres de karatê desfrutaram de uma vida longa no passado. Através do karatê podem-se obter músculos, promover a digestão, melhorar a circulação sanguínea. Tudo isso contribui para longevidade. Portanto, karatê deve ser introduzido como a base da educação física nas escolas. Assim, serão produzidos muitos (peritos) especialistas no karatê.

Escrito Por Anko Itosu  (um dos mestres de Sensei Funakoshi ).

domingo, 10 de junho de 2012

O significado

A palavra KOKORO significa “coração”, “centro”, “essência”. KAN significa "local" ou "lugar". Esse breve texto, chamado KOKORO NO MAKI em japonês, muitas vezes foi incluído nos manuais de Budô. 


O Livro do Coração

Quando o coração está cheio de coisas, o corpo se sente constrangido; quando está vazio, o corpo se sente expansivo.

Quando a reservas demais no coração, o amor e o respeito ficam perdidos; quando fica livre das reservas, o amor e o respeito são obtidos. 


Quando o coração está cheio de paixões radicais, os princípios são esquecidos; quando se livra das paixões radicais, os princípios são lembrados.

Quando o coração é um conjunto de coisas ardilosas, as aparências são falsas; quando fica livre de artifícios, as aparências são verdadeiras.

Quando o coração está cheio de orgulho, os outros são invejados; quando se livra do orgulho, os outros são respeitados.

Quando o coração está cheio de si mesmo, os outros são suspeitos; quando é abnegado, os outros são confiáveis.

Quando o coração está cheio de erros, os outros parecem assustadores; quando se livra dos erros, não há nada a temer.

Quando o coração está repleto de obstáculos, os outros são perigosos; quando está livre de obstruções, ninguém é perigoso.

Quando o coração está cheio de cobiça, os outros são lisonjeiros; quando se livra da cobiça, não há necessidade de elogios.

Quando o coração está cheio de raiva, as palavras são ditas asperamente; quando se livra da raiva, as palavras são pacíficas.

Quando o coração está repleto de paciência, tudo pode ser colocado em ordem; quando não é paciente, tudo malogra.

Quando o coração está cheio de convencimento, a bondade dos outros é ignorada; quando está livre da presunção, a bondade dos outros é percebida.

Quando o coração está cheio de ganância, os pedidos não têm fim; quando se livra da ganância, nada em especial é solicitado.


Segredos do Budô: ensinamentos dos mestres das Artes Marciais, por John Stevens.







quinta-feira, 24 de maio de 2012

Por que praticar Karatê-Dô?


Lá vão quatro décadas desde que, pela primeira vez, vesti o traje (gi) para a prática da arte, que desde então me fez súdito de seu caminho (Do).  Até hoje não sei responder exatamente o porquê daquele impulso que me levou a fazê-lo.  Afinal, era um adolescente.  Creio ser, inicialmente, uma curiosidade estética, pela beleza, ritmo e sincronia dos movimentos, cuja complexidade só muito recentemente consegui entender. 
Havia também a magia da segurança que a arte de lutar pode emprestar, e logo, praticando, entendi que o universo a ser explorado era muito mais amplo e profundo.

Não é fácil dizer ao iniciante o que ele vai encontrar, senão aquilo que parece óbvio, no desenvolvimento e domínio de técnicas, nos benefícios físicos e, por certo, psicológicos.

O importante é mostrar-lhe o mistério que está por detrás da arte que leva a um praticante mantê-la dentro de si por quarenta anos, como no meu caso, e em muitos, por mais até, até a morte, como passou com o mestre Okinawense, Funakoshi, que trouxe o Karate desde a ilha ao sul para a ilha central do Japão e, no dia de seu falecimento, pela manhã, já idoso com 87 anos, praticou sua rotina de movimentos habituais.

É possível perceber por essa lembrança que não se trata simplesmente de fazer o corpo se movimentar, dar-lhe exercício como aconselham os médicos, mas de uma experiência pessoal e profunda, onde o praticante é convidado a ingressar em si mesmo, explorando o mundo interior que o sustenta, até descobrir a verdade última: sua própria identidade.

A prática desenvolve-se em três planos, Kihon, Kata e Kumite.  No primeiro, praticam-se os movimentos isoladamente, ou em breves conjuntos e sequências, procurando emprestar-lhes a técnica, que nada mais é do limpar-lhes as impurezas, até que surge o movimento imaculado, o melhor que o corpo pode produzir.  No segundo plano, praticam-se os movimentos em sequências longas, sempre a partir de valores (equilíbrio, base, força, determinação, liberdade, introjeção) simbolizados pelo conjunto que representam.  Finalmente, no terceiro plano, abandonamos o mundo interior, a introspecção, e nos voltamos para o outro.  É a hora de lutar.

Kihon significa dividir, partir para conhecer.  É cartesiano.  Kata tem origem no sânscrito (kafu), velho idioma da Índia, e significa afastar maus pensamentos, isto é, dominar a mente que se corrompe pelo ócio, impondo-lhe rotinas.  Finalmente, kumite representa a expressão definitiva de todos os fenômenos internos na relação com o outro, o adversário, o mundo.

Trata-se, assim, de uma viagem para o interior e, depois, ao exterior.  Um poderoso método de autoconhecimento, também de especulação filosófica, em especial metafísica, como é próprio ao Zen, que concede ao nome, Karate, o seu sufixo, Do (Karate-Do), ou seja, caminho.

Finalmente, o nome Karate é composto por dois ideogramas, isto é, “Kara”, que significa vazio, e “te”, mãos.  O vazio, vácuo ou nada, para muito além da significância das mãos desarmadas, sendo elas próprias transformadas em armas, deriva no Zen, representando o quinto elemento, que se junta aos demais (terra, ar, água e fogo) para compor a cosmologia do Zen.  

O desafio sempre será entendê-lo. Parecendo interessante, venha praticar.

Fernando Malheiros Filho
Advogado e Professor de Karatê-Dô Shotokan Tradicional 5º Dan (ITKF/JKA)
                                          

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Caxias do Sul / RS

A mágica de ser um bom Sparring, nas lutas e na vida.

Volto a escrever, após um tempo de ausência do blog e com alguns novos temas definidos. Muitos deles, como este que apresento, estavam “na gaveta”. Felizmente organizei meu tempo e as ideias, para voltar a escrever. Sparring é uma palavra inglesa, muito utilizada nas Artes Marciais; entretanto, sua origem é do Boxe. Trata-se de uma pequena e estranha palavra, que diz muito sobre um comportamento:

“Verbo “spar” ou seu gerúndio “sparring” são termos usados quando lutamos mais com sentido de treino, exibição ou, mesmo, puro divertimento. Usamos o verbo “boxear”, quando lutamos pra valer.”
“Substantivo sparring, para denominar um colega que tenha estilo semelhante ao do nosso próximo adversário e que se dispõe a ajudar nosso preparo, fazendo lutas de treinamento conosco.”


Parece simples o conceito de sparring; porém, após alguma reflexão e muitos anos de treinamento, deparei-me com o múltiplo sentido dessa palavra. Isso foi possível, em decorrência do aprendizado intuitivo, produzido ao mesmo tempo em que  dou aulas de karatê-dô. Nesse sentido, fico grato aos meus alunos, por proporem esses desafios no nosso Caminho (Budô).

Esse insight surgiu durante algumas aulas, em que praticávamos técnicas de luta e, posteriormente, fazíamos a luta em si, e eu não conseguia fazê-los aliviar a força e a excitação, pelo combate. Pedia que começassem com menos intensidade e procurassem colaborar com o colega, o que não acontecia. Após alguns machucados e contratempos, tivemos uma conversa. Procurei explicar a intenção do treinamento e a necessidade de oferecer o auxílio ao colega, no treinamento. Ou seja: ser um bom sparring.


Um das dificuldades em ser um bom sparring é a insegurança. Óbvio que ninguém gosta de perder ou se sujeitar à derrota (ainda que de forma ficcional); entretanto, o praticante que está sendo sparring está simulando essa situação. E para qual finalidade? Para proporcionar o desenvolvimento do colega, nas suas técnicas. A questão, porém, é que o sparring também se desenvolve enquanto é o “alvo” do colega. Ele também aprende a noção de distância (maai), de tempo certo (deai) e de vários itens técnicos envolvidos no combate. A posição do olhar, a movimentação do corpo, a postura, a concentração e o espírito (zanchin) estão sendo trabalhados pelo sparring, e isso é um treinamento intenso.

Então, por que o sparring (ou o outro) tenta resistir à aplicação de uma técnica ou cria dificuldade, em excesso, para o colega? Por que não ceder e colaborar com a evolução de ambos?


Podemos transferir essa questão para a nossa vida, porque as pessoas também resistem às ideias, às mudanças e, mesmo, ao afeto. Quantos relacionamentos são destruídos, onde o casal tem coisas em comum (e até amor), porém ambos jogam um “antijogo”, não sendo bons “sparrings”, um para o outro? Não cedem em suas vontades, em suas idiossincrasias, em suas opiniões, causando um mal-estar ou, pior, magoando o parceiro. 
Esse simples conceito do universo das lutas se aplica diretamente na nossa vida. Ser um bom sparring cria uma mágica para o próximo. Abre caminhos, gera cortesia, trabalha no auxílio de possibilidade em fazer algo e “poder” fazê-lo melhor. Cria confiança no próximo, rompe as barreiras e promove o crescimento pessoal.
Ser um bom sparring é ótimo!



E por que temos dificuldades em agir assim? Pela falsa noção de controle que queremos ter. Quando criamos dificuldades para o próximo, estamos tentando controlar o que deveria fluir naturalmente. Nem tudo ao nosso redor deve ser manipulado ou, necessariamente, é nossa responsabilidade. As ações e reações das pessoas que amamos, por vezes, não têm lógica alguma! São frutos de coisas que sequer imaginamos, de vivências e má interpretação de um passado que não pode ser mais modificado.

Nas Artes Marciais, ceder o controle não significa perder o controle. Significa interagir, de forma dinâmica, com o ambiente e extrair a maior energia, com o mínimo de esforço, contração muscular (e espiritual) possível. Significa esvaziar a mente de medo, orgulho ou de angústias. Isso também pode ser chamado de “Mushin” (fig. ao lado - mente vazia, mente livre), um estado mental que possibilita agir sem hesitar, quando necessário. Esse jogo de controle e não-controle faz parte da formação de um lutador. Para chegar ao ponto de deixar fluir as ações, o praticante deve estar seguro da sua técnica e almejar um bom resultado.

Por fim, ser um bom sparring é um ato de caridade. Muitos podem confundir caridade com dar algo a alguém que é mais pobre; todavia, o significado dessa palavra vai além. Ser caridoso também significa benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias. E, com isso, trabalhamos o ego.


Livrando-nos do ego, recorremos à humildade e as coisas fluem melhor. Em japonês, isso pode se manifestar como Nyuanshin (coração dócil, mente receptiva), que também significa certa flexibilidade de espírito, que ateste sua disposição em aceitar as coisas tais como são apresentadas. Se você adotar esse tipo de conduta, na prática, adquirirá a característica da humildade e beneficiará as pessoas e a sociedade da qual você faz parte.  A ausência dessa característica denota orgulho e ego, os elementos que conduzem à fricção mental e que constituem um obstáculo ao desenvolvimento espiritual. 

Ser um bom sparring é ser flexível com o próximo e consigo, é adaptar-se e desafiar-se,  buscando o desenvolvimento. Isso, nas Artes Marciais ou na vida. Oss

A Arte Marcial e a Educação

É necessário conhecer intelectualmente o que é bom e o que é ruim. Também é necessário desenvolver a inteligência para distinguir o certo do errado em várias situações complexas.

Assim, é necessário ensinar a pessoa a distinguir o bom do ruim, diferenciar o que é certo e o que é errado.

A educação moral deve ser trabalhada no aspecto das emoções. Mesmo que, intelectualmente, você saiba distinguir o certo do errado, se não for treinado emocionalmente para gostar do que é bom e evitar o que é ruim, sua capacidade de fazer o bem e de rejeitar o ruim será deficiente.

Se a moral não for cultivada intelectual e emocionalmente, não se chegará a bons resultados.

Além disso, mesmo que você tente fazer o bem e rejeitar o mal, se a sua força de vontade for fraca, ocorrerá muitas vezes o oposto. Assim, o treinamento da força de vontade deve fazer parte da educação moral – uma força de vontade fraca pode resultar na incapacidade de fazer o que você considera correto ou de evitar algo que você sabe que é errado.

Também é importante lembrar-se do hábito.

Mesmo que você tenha intenção de fazer o bem, se não desenvolveu esse hábito, suas melhores intenções podem facilmente se desvirtuar. E mesmo as melhores intenções de rejeitar o mal podem falhar se você não desenvolveu o hábito de fazer isso. Por essa razão, você deve procurar cultivar bons hábitos, amar o que é bom e rejeitar o mal diariamente.

Extraído do livro "Energia Mental e Física" de Jigoro Kano (fundador do Judô).

Jardim Zen

Inspirado na antiga lenda de um samurai, o jardim japonês virou significado de equilíbrio e harmonia, tanto no Oriente quanto no Ocidente. A história que teve origem no Japão e foi difundido mundo a fora é a seguinte: um jovem samurai resolveu abandonar a escola e seguir o caminho do mal. Seu mestre tentou fazê-lo mudar de idéia e, sem sucesso, foi obrigado a desafiá-lo em uma luta: era sua missão.


A experiência e equilíbrio do mestre foram decisivos para vencer o duelo e matar o jovem.Quando chegou a notícia da morte do aluno na escola, houve uma comemoração em massa, que foi interrompida pelo vencedor da luta. Indignado, o mestre ordenou que todos os alunos preparassem o jardim da casa do samurai, em homenagem ao ex-aluno. O trabalho foi realizado com ferramentas rústicas, e as pedras, utilizadas em número ímpar, foram deslocadas com a força dos braços.Para os japoneses, estas pedras significam as adversidades e o respeito. A idéia foi transportada para uma caixa, onde o "jardineiro" pode exercitar seu equilíbrio e refletir. A reflexão sobre os nossos atos, sobre a nossa prática e consequências das mesmas é uma constante busca pelo equilíbrio. .
.

Assista abaixo a entrevista com Mestre Tokuda, sobre o Zen Budismo e Artes Marciais:



.